2 de março de 2011

O Primeiro

Imitando meus super-heróis na imaginação. Andando sozinha a qualquer caminho. A vida se revelou para mim naquele instante.
Tirou-me a atenção no primeiro momento, coisa que nunca tinha sentido em outros garotos da minha idade. Lamentavelmente não havia necessidade de muita perspicácia pra notar tal singular beleza. Já estavam lá os outros garotos, empenhados em fazer graça entre eles, como sempre, era um grupo fechado.
Faziam graças de assuntos detalhados e piadas.
Assim, enquanto eles faziam graça entre eles, diante de todos, eu resolvi fazer graça diretamente para você.
Tentei me aproximar enquanto ele estava vidrado em jogos onlines. Não lhe dirigir nem uma palavra e pus-me a observar a sua imagem. A inocência, que também mantém a moralidade, permitiu que eu, sem peso algum na consciência, utilizasse a patética performance dos outros garotos para lançar comentários engraçados para ele.
Os garotos eram meus amigos.
E, inevitavelmente, eu ria. Não de mim e nem para mim, mas dos garotos.
Eu quis saber dele. Eu o quis naquele momento.
Lembro que se seguiu uma semana temporalmente confusa: eu dormia, encontrava-o nos meus sonhos; acordada, encontrava-o na realidade. Os encontros em sonhos eram mais sucedidos, como de costume. Quando acordada, ficava louca para vê-lo. Só precisava continuar a vê-lo.
Enfim, lembro-me como começou nosso diálogo.
Pausa no tempo.
Devo ter seqüelas até hoje pelo tamanho do sorriso que aquela pergunta me causara. Olhava para aquela conversa sem acreditar. Não só na pergunta, mas em todo o conjunto de sua existência. Como era encantador aquele menino, meu Deus!

E eu lhe disse:
- Sim, eu quero! E agora, acontece um beijo?
Ele respondeu:
- Um abraço já é de bom tamanho.

Alguém já havia me explicado que, quando uma menina revela o desejo de ficar com um menino, é o momento de beijá-la. Estava tão inebriada em saber que aquela encarnação de beleza perfeita correspondia ao meu sentimento, que o pedido de um abraço me deixou muito mais apaixonada.
Beijá-lo!
Abraçá-lo!
Ah, era lindo!
Então, ele partiu.
Partiu e levou o meu beijo, o meu abraço, o nosso amor...
O primeiro amor, que não deve ser propriamente amor, ainda assim é uma coisa muito bela. Não há como retornar ao estado anterior. Não há como resgatar o que houve, nos amores seguintes. O que foi tocado, sentido, rompido, é irreversível. O primeiro amor, que não é amor, ainda assim é o único de uma coisa que, durante a vida inteira, não se consegue dar outro nome.
E por muitas e muitas noites, sonhei e chorei em busca do meu beijo perdido. O reclamo até hoje e não haverá dia que deixarei de reclamá-lo. Sinto sua falta ao revisitar as lembranças e não encontrá-lo.
Era meu. Ele não tinha direito de levá-lo.

Eu me despedi:

- Eu te amo. Amanhã nos falamos.
Ele retornou:
- Tudo bem. Beijo.

E não houve um amanhã.

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